Inspiração transformada em palavras!!! Imagens capturadas eternizando momentos!!!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

NIGHT OF SATURDAY

Santo Antônio do Grama/MG
Um dia chegamos,
Ao cúmulo da cidade gramense,
Numa escada de aguardente
Formada por degraus fotogênicos.


As almas riam alto
E derramavam pranto na lua crescente,
E os poetas podiam abrir a boca,
Num grito mudo, profético e libertino,
Como se fossem bruxos fanáticos;
Por uma religiosidade sem razão,
Um dia homérica.


Os compositores podiam dançar jazz,
Como se o germe de um movimento
Ordinário,
Fosse o meio mais excitante
Para masturbar-se,
Com uma mulher sublime
No meio,
De um público que berra e dá gritos,
Como se congregasse uma assembléia
De loucos.


Aonde foram as cores vivas?
Aonde foram os pincéis?
Paraste de pintar por causa da ilusão
Que subiu ao cemitério,
No carro que se ergueu pela força sem Razão
De duas mãos distantes?
Existe ainda um olhar oblíquo
Em algum lugar,
Mas há uma horizontal na Suécia,
Na cidade luz, ou bem perto de você,
Que bem poderás voltar às tintas,
Aos lápis de cores.


Existe uma prostituta na esquina,
Cortando os pulsos.
Existe um gatinho preto embaixo das
Rodas de um Verona branco.


Existe um homem santificável
Esquartejado,
E ainda derrama-se um cálice
De sangue vivo.


A razão tornou-se apenas uma desculpa


Incontestável;
Posso dizer-lhe uma coisa?!
É por isso que penso mais com o cérebro,
Penso com as estrelas
E com o coração,
Assim,
Continuo rolando a da imaginação,
Pelo imenso morro,
Onde os ratos tornam-se célebres,
Porque tem uma postura aristocrática,
Ruído sereno e uma cama de ouro
E diamantes.


Aonde foi a poesia?
Foi passear numa vila,
Onde uma menina tola
Nasceu sob a regência de Mercúrio em
Linhagem
Com Plutão,
Sob signo de capricórnio?


Responda, cara.
Ou você é espírito como o ar que sopra
Vidas às ventas dos seres que nascem?
Ou você é um daqueles mortais
Que ficam no pomar da imortalidade,
E nunca mais lhes sucumbem nenhuma vida?


Será que um homem de massa,
Suportaria a imortalidade enquanto mortal?


Existe um mundo submarino,
E um psicólogo receitando os monstros
Das telas,
Como amigos do peito.


Ele sabe que a vida é um rio,
E que um rio passa dentro do esgoto
De si mesmo,
E que atravessando um rio,
Dentro de si mesmo,
É que encontramos um jardim
Onde as serpentes são verdes
E podemos comer
Pétalas mortíferas e continuar com vida.


Somos suicidas quando outra vida
Abraça-nos, com um ímpeto quase amável.


Somos suicidas
Quando cansamos de uma vida,
E somos capazes de nos acendermos nela.


Somos suicidas quando renascemos
Para uma finalidade.


Só quando uma lâmpada se apaga


Dentro de nós,
É que podemos ver a cidade em chamas.


Nós estávamos no cúmulo,
Enquanto uma criança,
Nascia pela primeira vez no mundo,
E um feto descia aceso e calmo,
Pelo esgoto do planeta.


Nós revidávamos Bach e Napoleão.
Éramos os conquistadores daquela noite.


Cremos infinitamente em um amor,
Por isso fomos
Embora para o deserto,
Onde um corpo reluziu à nossa espera,
E nós acordamo-nos em um mar
Sem lua brilhante,
E sem farol na noite fresca.


É triste.
Eu acho que vou chorar.


Não.


Eu vou sorrir alto como um palhaço,
E me enfiar no meio da multidão


Com uma máscara,
Manchada de vermelho.


Eu vou ser um idiota
Sentado no banco da platéia
Dos psicopatas mortos.


Eu vou escrever o meu nome
Na lousa vernal.


Vou erguer aquela cobertura de mármore,
E passar a noite sob o solo.


Vou morrer amanhã de manhã que é dia Sete
E não haverá velo, nem cruz,
Nem aguarrás,
Sobre meu corpo.


Depois do meio dia ninguém ficará
Sem chapéu,
E as damas de cabelo preto subirão
Comigo,
Até as estrelas,
Onde os astronautas miram o mar.


Onde as almas são naturais.


Ninguém sabia.


Havia uma prostituta dormindo
Num colchão de algodão;


E um inferno sustenindo o tédio
No cálice vital de quatro corpos.


Os cacos de vidro criavam asas
Os amores perdiam seus remos
E arrastavam-se sobre aves de vidro.
Éramos aventureiros,
E no empirismo de nossa carne,
Buscávamos um lugar deserto,
Onde o Cruzeiro nos fazia crer,
Que as fêmeas do sábado não tinham
Lágrimas,
E que as marquises tinham pena
De seus habitantes.


Nós tínhamos um desespero passivo
E acreditávamos que as prostitutas
Pisavam num lugar santo,
Onde toda a razão ficava por trás
Do limiar.


Nós salvávamos as mulheres todas da Terra
E morríamos por cada uma delas,
Num deletério sem critério algum,


Como se fossemos um deus e elas um povo,
E o amor uma pedra
Sobre a cachaça que ingeríamos.


Éramos utópicos também.


Éramos fiéis por cinco
Segundos de volúpia cega.


Nossos dedos eram vítimas
Da maldade que sofríamos
Sem querer deveras doutor.
Porque o fruto daquela maldade
Tinha origem de uma árvore,
Com o nome de mulher.


Por ser uma maldade de amor.


Sei que eu acreditava que os loucos
Não eram tristes,
Porque possuíam uma liberdade
Que só podemos encontrar na embriaguez,
E nossos seres poderem ir,
Ao encontro dos vencidos, dos mortos,
Num grito de desafio.


Desmancha-se num simples gesto
A rede de uma prisão;


E encontra-se, entre as grades,
Da liberdade que é apenas um nome
Criado por um ser conhecido
Como animal racional.


Você ainda acredita em Deus?
Não precisa responder nada.


A cidade era nossa,
Nosso sono era o sono das mães
Dos filhos da puta.
Nossos sonhos eram os sonhos dos
Rebeldes,
Que se encontravam nos colos das mães
Nos cabarés da vida,
E nunca veriam seus pais;


Nossas vidas eram as vidas das estrelas
Que morreram virgens,
Sobre os nossos corpos elípticos,
O mundo até o raio que o parta,
Era o porquê havíamos um coração Cliptónico.


O universo
Era o porquê o tínhamos nas mãos,
Como se volvêssemos um cravo.


Não sei se devo dizer;


Mas as mulheres eram de si mesmas
Naquela noite.
Eram meramente lésbicas
E ardentes como um animal selvagem,
E nossas chamas empíricas,
Apenas era um desejo empírico,
De um estudante empírico,
Onde as fêmeas eram um espectro
Sobre o espectro,
Que vaga pelo ventre da noite.


Cara, o mundo era um ser mudo
E alienígena naquela hora,
Nossa voz rompia
Barreiras em quatro dimensões,
Quando abríamos a boca.


Os seres tinham medo e nós subimos
Às escadas,
Por onde se vai ao alto cume da cidade.
E quando a cidade se envolveu na fumaça
Do nada.
Nós nos apagamos como heróis
E acordamos
Às seis,
Na hora em que os bois eram
Apenas animais singelos,
Ruminando flores perfumadas e belas,


E os porcos eram um rio de sangue humano,
E os cocôs de porcos eram castelos de reis.


Naquela noite nos encontrávamos
À procura,
De algum motivo para alguma coisa.


Você tem cinco segundos,
Para me dizer o que me faz pensar nisso...


Aquela garrafa cheia de vida,
Arrogante como as cobras do deserto,
Minha fantástica expectativa era a de um fantasma,
Surgir no meio da noite.


Mas nenhum defunto saiu do cemitério,
Falando gíria em inglês como hoolywood.


Nenhum esqueleto ganhou a superfície,
Falando alto e rouco,
Como um elemento delinqüente
Suburbano.


Estávamos sós.
Os animais no pasto do mundo,
Mijavam o capim da natureza sofrida.


Existia alguma força magnética,
Dentro daquela terra?
Um dia você me responde.


Nossa mente parecia querer explodir
Em energia mutante,
Como se fossemos quatro vulcões
Caminhando sobre o morro.


Nossos corpos pareciam se desmaterializar
Nas mãos do Infinito,
Como se fôssemos eternos e a cidade fosse
Mortal.


Nossos olhos eram dois aviões
Na noite escura,
Sabendo coisas que só nós aprendemos
E só o tempo saberia simplificar.


Nossa boca era a profecia de um herege
Que xingava o mundo de fenomenal,
E quis espancar um pássaro,
No início de um muro para o outro lado
Do universo paralelo.


Passamos a noite sobre uma árvore,
Embaixo de uma cruz de aço e concreto,


Mas nem por isso nossa alma maculou-se
De verde.


Verde é esperança, cara.
...E isso era a coisa mais importante e bonita,
De cada pedaço nosso,
Repartido,
A cada indivíduo, a cada pessoa,
A cada ente...


Você tem linhagem?
Fale-me sinceramente, você carrega fragmentos?
Como quem seria capaz de chorar
Se os perdesse no muro de Berlim?
Se os notasse sumir no espaço,
Como a fumaça de Cubatão?


Existe sempre uma mulher num peito
Homem,
E uma mulher é parte de mim,
Por isso é que não tenho mais coração.
Ela tem, cara?


É por isso que eu não queria ser
Cruel naquela aurora,
E ascender o estopim do mundo
Como um covarde.


O pior de tudo é que ela drenava toda
A minha força;
E eu admitia uma capacidade invencível.


Jamais se pode prender uma borboleta
Com mãos de aço.


E saí por aí, planície afora,
Com a indiferente arrogância ,
De quem não mostra jamais os olhos,
Para não fazer flagrante o pranto.


Eu tinha pranto.


E minha covardia era a coragem
De me deixar
Ser dominado por ela,
Como se isso fosse uma diversão
Para volver a vida.


Vomitamos o mundo,
Como se fossemos cães nojentos,
E nos apagamos, num homerismo profundo,
E de tão insensato que era o nosso gesto
Tornamos-nos sensatos demais.


Depois de tudo, cara, a mulher da TV,
A mulher do trópico,


Para o nosso sonho não se sepultar
Sozinho,
Para o nosso pensamento não descer
Ao fundo da terra,
Sem companheira...


O cúmulo em que chegamos um dia,
Precisávamos de algum motivo
Para alguma coisa.
E era sábado.


Santo Antônio do Grama
09 de Abril, 1991

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